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Por que o NPS não é a melhor forma de medir a qualidade da sua consultoria CVM?

O lado B do NPS nas consultorias CVM

Como você explica isto:

NPS 90, AuM/AuC estagnado e recorde de resgates no trimestre.

Se a sua consultoria CVM, assessoria de investimentos ou MFO vive algo parecido, o problema não é “falta de pesquisa”. É justamente como o NPS está sendo usado.

O Net Promoter Score nasceu como uma métrica simples de lealdade, baseada em uma única pergunta: “Em uma escala de 0 a 10, qual a probabilidade de você recomendar minha empresa para um amigo ou colega?” 

O tempo passou, e em muitos players de mercado financeiro, o NPS virou:

  • Métrica de vaidade para apresentação em convenção, roadshow e post no LinkedIn. 
  • Alavanca de bônus de consultores, assessores e farmers da operação 
  • Símbolo de “empresa centrada no cliente”, mesmo quando o cliente está claramente sinalizando insatisfação por outros canais.

O resultado você conhece: o script clássico de fim de atendimento:

“Fala, vai chegar uma pesquisa pra você. Dá aquela ajudinha aqui para o amigo e me da um 9 ou 10, isso vai ajudar muito no meu bônus aqui!”

Nesse momento, a pesquisa deixa de medir a experiência real e passa a medir:

  • O quanto o cliente gosta da pessoa que falou com ele;
  • O quanto ele quer “ajudar” o assessor;
  • O quanto ele está com pressa para encerrar a conversa.

A literatura já vem batendo forte nesse ponto: NPS não é um preditor tão robusto de lealdade quanto se vende. Ele simplifica demais comportamentos complexos, perde informação ao agrupar notas em “detratores/passivos/promotores” e muitas vezes não antecipa bem churn ou comportamento de recompra. 

Em estudos que comparam NPS com comportamento real (recompra, recomendação efetiva, advocacy), a correlação é bem menos “mágica” do que o discurso comercial costuma prometer. 

Quando você amarra:

  • Bônus do assessor
  • Campanha de marketing
  • Reputação da marca

A um número que pode ser maquiado na origem, o que acontece é simples:
você cria um sistema perfeito… para enganar o gestor.

Nas consultorias CVM e MFO, isso é especialmente perigoso porque:

  • Decisões de aporte, realocação e resgates são de alto impacto financeiro;
  • A base é concentrada (poucos clientes com muito volume);
  • Um churn grande machuca diretamente NNM, receita recorrente e valuation do business.

Se o seu dashboard mostra “NPS 88” ao mesmo tempo em que:

  • NNM vem caindo,
  • Resgates estão em alta,
  • Indicação espontânea está baixa,

O recado do cliente é claro: alguma coisa na forma como você mede qualidade está errada.

O que Dan McFadden nos ensina sobre churn, NPS e decisões discretas

Vamos sair um pouco do mundo das pesquisas e entrar na economia.

Em 2000, Daniel McFadden ganhou o Nobel de Economia pelo desenvolvimento da teoria e dos métodos para analisar escolhas discretas – aquelas decisões do tipo “ou isso, ou aquilo”: comprar ou não comprar, escolher o produto A ou B, ficar ou sair. 

A base do trabalho dele está nos chamados modelos de escolha discreta, como o logit (ou regressão logística). A ideia central é:

Cada pessoa escolhe a opção que maximiza o benefício percebido (utilidade).
A partir dos dados, você estima a probabilidade dessa escolha acontecer.

Uma das simulações chegou ao seguinte cenário:

Potencial de recomendação

Possibilidade de churn

0

98,8%

1

97,5%

2

94,7%

3

89,3%

4

79,4%

5

64,1%

6

45,3%

7

27,7%

8

15,1%

9

7,6%

10

3,7%

 

Onde o potencial de recomendação é a nota dada na pesquisa NPS e a possibilidade de churn uma análise de dados históricos de clientes que saíram versus notas dadas em pesquisas anteriores. Entenda que mesmo clientes promotores (notas 9 e 10), chegam a ter 10% de probabilidade de dar churn.

Na prática, o que McFadden fez foi construir uma forma matemática consistente de responder perguntas do tipo:

  • “Qual a chance desse cliente churnar?”
  • “Qual a probabilidade dele migrar para outro produto?”
  • “Quais fatores aumentam ou reduzem essa chance?” 

Agora, traga isso para a sua consultoria CVM:

As decisões do seu cliente são todas discretas:

  • Churnar ou não churnar (resgatar para outro player).
  • Aportar mais ou parar de aportar.
  • Recomendar ou não recomendar sua consultoria para alguém relevante da rede dele.

Uma regressão logística bem construída consegue estimar a probabilidade dessas decisões usando variáveis como:

  • Tempo de casa,
  • Nível de patrimônio sob custódia,
  • Volatilidade e drawdown recente da carteira,
  • Histórico de erros e correções no atendimento,
  • Frequência e qualidade dos contatos,
  • Uso (ou não) de canais digitais (novas gerações),
  • Incidência de reclamações e retrabalhos.

Já o NPS, do jeito tradicional, coloca todo esse fenômeno complexo dentro de uma única pergunta de intenção, e ainda:

  • Converte a escala de 0 a 10 em três grupos (detrator/passivo/promotor),
  • Descarta a nuance das respostas intermediárias,
  • Ignora comportamento real (aporte, churn, indicação). 

 

Ou seja:

O que queremos trazer aqui é que um NPS bom não é garantia alguma de que o cliente não irá resgatar. O NPS tradicional tenta explicar uma intenção declarada, que pode ou não se confirmar.

Estamos discutindo aqui justamente a diferença entre métricas de intenção (likelihood to recommend – NPS) e métricas de comportamento (churn, recompra, share of wallet). A mensagem recorrente é: se você não conecta perguntas de “probabilidade de recomendar” com dados de comportamento real, o risco de tomar decisões ruins com base em métricas “bonitas” aumenta. 

Voltando à sua operação:

  • Se o seu modelo mental é:

“Cliente que dá 9 ou 10 no NPS é leal, logo não vai churnar nem resgatar pesado”

  • Mas os seus dados mostram:

Alta nota de NPS + alto volume de resgates,

Então o que está errado não é o cliente, é o modelo.

Você está tratando nota de NPS como se fosse uma regressão logística bem estimada. Mas, no fundo, é só uma pergunta sujeita a viés, pressão social e scripts de atendimento.

A alternativa prática: régua de relacionamento + indicação (e um NPS 3.0 de verdade)

Então o que fazer? Abandonar o NPS?

Na nossa visão, especialmente para consultorias CVM e MFO, o caminho não é “jogar o NPS fora”, mas:

  1. Parar de usar ele como incentivo para bonificação,
  2. Trazer o número real de indicação para a mesa,
  3. Conectar a régua de relacionamento com métricas reais de crescimento,
  4. Usar o conceito por trás do NPS 3.0 a seu favor.

3.1. Para que o NPS realmente serve

Quando usado da forma correta, o NPS deveria ser:

  • Um gatilho para ouvir comentários qualitativos (o “por quê” da nota);
  • Um insumo para melhorar processos e jornadas;
  • Uma métrica interna, e não peça de marketing.

Quando você transforma o NPS em slogan (“NPS 90+ pelo 5º ano consecutivo”), ele perde o propósito — e você começa a desenhar a operação para proteger a nota, não o cliente.

3.2. O que o NPS 3.0 traz de relevante

Os criadores originais do NPS reconheceram que muitas empresas estavam usando o indicador como métrica de vaidade e autopromoção e que era necessário trazer um componente financeiro mais robusto. Daí surge o conceito de NPS 3.0, com destaque para o Earned Growth Rate (EGR), que mede quanto do crescimento da empresa vem de:

  • clientes existentes que ficam e expandem, e
  • clientes novos que chegam por indicação desses clientes. 

Na prática, o EGR força a seguinte disciplina:

“Não me mostra só o que o cliente disse que faria (nota de NPS).
Me mostra o que ele de fato fez: ficou, aportou mais, indicou alguém.”

Para uma consultoria CVM, isso conversa diretamente com:

  • NNM/AuC (crescimento líquido de ativos),
  • origem do fluxo (se veio de indicação, campanha, evento ou prospecção fria),
  • stickiness da base (quanto tempo o cliente fica aportando com você).

Você pode adaptar o conceito assim:

  • Indicador 1: % do NNM que vem de clientes atuais e suas indicações.
  • Indicador 2: % da base que indica ativamente (indicador de “advocacy real”).
  • Indicador 3: churn em valor e em número de clientes por segmento.

O NPS (a pergunta de recomendação) deixa de ser estrela do show e passa a ser:

  • Uma hipótese: “Quem responde 9/10 tende a indicar ou não?”
  • Um atributo em modelos simples de previsão de churn ou indicação,
  • Um ponto de partida para entender comentários qualitativos.

3.3. Régua de relacionamento e indicação como estratégia de qualidade

Se você quer fazer “marketing de qualidade de atendimento”, há caminhos bem mais honestos e poderosos do que gritar “NPS 90”:

  1. Desenhar uma régua de relacionamento clara, por segmento de cliente:
    • Rituais de contato proativo (call de rebalanceamento, revisão anual de objetivos, acompanhamento de eventos de vida),
    • Canais preferenciais por perfil (HNW, ultra, empreendedor, sucessão, etc.),
    • “Momentos de encantamento” bem definidos — onde você entrega valor antes do cliente pedir.
  2. Medir o que realmente importa:
    • % da base que recebe os rituais de relacionamento conforme o planejado;
    • Correlação entre intensidade de relacionamento e:
      • Aporte líquido,
      • Retenção (churn),
      • Indicação.
  3. Estruturar o pedido de indicação:
    • Fazer o pedido no momento certo (após entrega de valor percebido, não após pedir “nota alta”);
    • Posicionar a indicação como forma de ajudar alguém da rede do cliente, não como favor ao consultor.
  4. Comunicar para o mercado o que é de fato resultado:
    • “X% do nosso crescimento vem de clientes que já estão conosco”;
    • “Y% dos nossos clientes chegam por indicação de clientes atuais”;
    • “Nossa taxa de retenção em 3 anos é Z%”.

Isso é muito mais poderoso (e verdadeiro) do que um NPS maquiado.

Como a AAWZ ajuda consultorias CVM a sair da armadilha do NPS

Na AAWZ, quando olhamos para uma consultoria CVM a conversa sobre NPS não começa em “como subir a nota”, e sim em:

“Como conectar a percepção de valor do cliente com crescimento real de custódia, NNM e indicações?”

De forma concreta, conseguimos apoiar em quatro frentes:

4.1. Diagnóstico de NPS, churn e “qualidade real”

  • Análise de como o NPS é coletado hoje (script, canal, momento, incentivos);
  • Identificação de possíveis fontes de viés e maquiagem (ex.: assessor pedindo nota, pesquisa pós-crise, etc.);
  • Conexão entre:
    • Notas de NPS por carteira / assessor / segmento,
    • Churn, resgates e queda de aporte nesses mesmos recortes.

Objetivo: mostrar, com dados, onde o NPS conta uma história que o comportamento do cliente desmente.

4.2. Modelagem simples de risco de churn e potencial de indicação

Inspirados nos princípios de escolha discreta estudados por McFadden, ajudamos a montar modelos simples e pragmáticos (não “caixas-pretas”) que estimam:

  • Probabilidade de churn por cliente ou por carteira,
  • Probabilidade de indicação ativa,

Usando variáveis que você já tem:

  • Histórico de resgates e aportes,
  • Exposição a volatilidade/drawdown,
  • Frequência de contato,
  • Participação em rituais de relacionamento,
  • Recorrência de problemas operacionais.

O NPS entra como mais uma variável, não como “a verdade absoluta”.

4.3. Desenho e implementação da régua de relacionamento e indicação

Aqui, conectamos qualidade percebida com resultado de negócio:

  • Desenho da régua de relacionamento por persona e por faixa de patrimônio;
  • Definição de “eventos-chave” da jornada (onboarding, primeiro grande aporte, sucessão, venda de empresa, etc.);
  • Scripts e playbooks para:
    • Conversas difíceis (crise, drawdown, erro operacional),
    • Conversas de valor (planejamento, cenário, oportunidades),
    • Conversas de indicação (como pedir, quando pedir, como registrar).

Tudo isso amarrado a indicadores que importam: NNM, churn, % do AuC vindo de indicação, share of wallet estimado.

4.4. Reposicionamento do NPS dentro da governança

Por fim, ajudamos a:

  • Tirar o NPS do papel de métrica de vaidade e reposicioná-lo como:
    • Índice de “temperatura” da relação,
    • Insumo para melhoria contínua,
    • Variável explicativa em modelos de decisão discreta.
  • Redesenhar os incentivos de bônus, evitando:
    • Scripts de “me ajuda com a nota”;
    • Pesquisas direcionadas;
    • Foco em proteger o indicador, em vez do cliente

Conclusão

Se você lidera uma consultoria CVM, MFO ou uma estrutura de assessoria, a pergunta que vale fazer não é:

“Como faço meu NPS chegar em 90+?”

Mas sim:

“O quanto meu NPS, do jeito que é medido hoje,
realmente explica aportes, retenção e indicação dos meus clientes? Quanto ele me ajuda na previsibilidade do meu business e plano de ação?”

Se a resposta for “pouco” — ou se você simplesmente não sabe —, é um ótimo momento para:

  • Revisar o desenho da pesquisa,
  • Repensar o papel do NPS na sua cultura,
  • E construir uma régua de relacionamento e de indicação que conecte experiência com crescimento real do negócio.

É exatamente aí que a AAWZ entra.

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Até a próxima edição!